O senhor idoso na esquina não o viu. A mulher vendendo figos também
não. Jesus o descreveu para os escribas no portão e para as crianças no
quintal. “Ele tem mais ou menos esta altura. Com roupas esfarrapadas.
Barba saliente.”
Ninguém tinha uma pista.
Na maior parte do dia, Jesus estava o procurando para cima e para
baixo nas ruas de Jerusalém. Ele não parou para almoçar. Ele não parou
para descansar. O único momento em que seus pés não estavam se movendo
era quando Ele perguntava: “Com licença, você viu o rapaz que costumava
mendigar na esquina?”
Finalmente, um menino dá uma dica. Jesus vai até uma rua afastada em
direção ao templo e vê o homem sentado em um toco entre dois burros.
Cristo se aproxima por trás e coloca a mão em seu ombro. “Te encontrei!
Estava te procurando.” O rapaz vira e, pela primeira vez, vê Aquele que
fez com que ele enxergasse. E o que ele fez em seguida, você vai achar
difÃcil de acreditar.
João nos apresenta esse homem com as seguintes palavras: “E passando
Jesus, viu um homem cego de nascença.” (Jo 9:1). Esse homem nunca viu um
nascer do sol. Não sabia diferenciar roxo de rosa. Os discÃpulos
culparam a árvore genealógica. “Rabi, quem pecou, este ou seus pais,
para que nascesse cego?” (v.2).
Nenhum dos dois, o Deus-homem responde. Essa condição vem do céu. A
razão pela qual esse homem nasceu cego? “Foi para que nele se manifestem
as obras de Deus.” (v.3).
Escolhido para sofrer. Que papel ingrato. Alguns cantam para a glória
de Deus. Outros ensinam para a glória de Deus. Quem quer ser cego para a
glória de Deus? O que é pior – a situação ou descobrir que foi idéia de
Deus?
Jesus cospe no chão
A cura provou ser tão surpreendente como a causa. “Jesus cuspiu no
chão e com a saliva fez lodo, e untou com lodo os olhos do cego” (v.6).
O mundo é rico em pinturas do Deus-homem. Nas braços de Maria, no
Jardim do Getsêmani, no cenáculo, no túmulo escuro. Jesus tocando. Jesus
chorando, rindo, ensinando… mas eu nunca vi um quadro de Jesus
cuspindo.
Cristo lambendo seus lábios uma ou duas vezes, juntando saliva na
boca, fazendo um montinho de baba e cuspindo. Direto na lama. (Crianças,
da próxima vez que sua mãe te disser para não cuspir, mostre a ela esta
passagem). Então Ele agacha, faz uma poça de… não sei, do que você
chamaria aquilo?
Betume santo? Terapia de cuspe? Solução de saliva? Qualquer que seja o
nome, Ele coloca um dedo na palma de sua mão, e então, tão calmamente
quanto um pintor coloca massa em um buraco na parede, Jesus faz um
milagre com lodo nos olhos do homem. “Vai, lava-te no tanque de Siloé”
(v.7).
O mendigo foi até o tanque, esguichou água em seu rosto enlameado, e
tirou a argila. O resultado é o primeiro capÃtulo de Gênesis, somente
para ele. Luz onde havia escuridão. Foco de olhos virgens, figuras
distorcidas tornam-se seres humanos, e João recebe uma declaração da
recompensa da BÃblia quando escreve: “e voltou vendo.” (v.7).
Ora, João! Está com falta de verbos? Que tal “ele enxergando voltou
correndo”? “Ele enxergando voltou dançando”? “Ele voltou fazendo
algazarra, gritando e beijando tudo que podia ver pela primeira vez”? O
moço devia estar agitado.
Nós amarÃamos deixá-lo daquele jeito, mas a vida deste homem vai do
melhor pro pior, ele foi do filé mignon para brotos fervidos. Olhe a
reação dos vizinhos. “Não é aquele que costumava mendigar?” “Uns diziam:
é ele. E outros: não é, mas se parece com ele. Ele dizia: sou eu.”
(v.9).
Esses caras não celebravam, eles discutiam! Eles assistiam esse homem
andar às apalpadelas e tropeçar desde que era criança e você acha que
eles regozijariam. Mas não. Eles o levaram para a igreja para testá-lo.
Quando os fariseus pedem uma explicação, o mendigo que era cego diz:
“Pôs-me lodo sobre os olhos, lavei-me e vejo.” (v.15).
De novo paramos para ouvir o aplauso, mas ele não vem. Sem
reconhecimento. Sem celebração. Aparentemente Jesus falhou na consulta
ao manual de cura. “Ora, era sábado o dia em que Jesus fez o lodo e lhe
abriu os olhos… por isso alguns dos fariseus diziam: Este homem não é de
Deus; pois não guarda o sábado.” (vv.14,16).
Ninguém vai se alegrar com este homem? Os vizinhos não. Os pregadores
não. Espere, aà vêm os pais. Mas a reação dos pais do ex-cego foi ainda
pior.
Chamaram os pais daquele que havia recebido a visão, “e lhes
perguntaram: ‘É este o vosso filho, que dizeis ter nascido cego? Como,
pois, vê agora?’.”
“Seus pais responderam: ‘Sabemos que este é o nosso filho, e que
nasceu cego; mas como agora vê, não sabemos; ou quem lhe abriu os olhos,
nós não sabemos; perguntai a ele mesmo; tem idade; ele falará por si
mesmo.’ Isso disseram seus pais, porque temiam os judeus, porquanto já
tinham estes combinado que se alguém confessasse ser Jesus o Cristo,
fosse expulso da sinagoga.” (vv.19-22).
Como podem fazer isso? Na verdade, ser expulso da sinagoga é sério. Mas se recusar a ajudar seu filho não é mais sério?
Ninguém o via
Quem estava realmente cego naquele dia? Os vizinhos não enxergavam o
homem, viam uma novidade. Os lÃderes da igreja não enxergavam o homem,
viam um assunto técnico. Os pais não enxergavam seu filho, viam um
problema social. No final, ninguém o via. “E expulsaram-no.” (v.34).
E agora, aqui está ele, em uma rua afastada em Jerusalém. O rapaz
devia estar confuso. Nasceu cego apenas para ser curado. Curado apenas
para ser expulso. Expulso apenas para ser deixado só. O pico do Evereste
e o calor do Saara, tudo em um dia de descanso. Agora não pode mais nem
mendigar. Qual seria a sensação?
Você pode saber tudo muito bem. Eu conheço um homem que era
responsável por quatro crianças. Uma mãe solteira em nossa igreja que
criou dois filhos autistas. Éramos responsáveis por uma vizinha que o
câncer levou a problemas cardÃacos e teve pneumonia. Seu registro de
saúde era tão grosso quanto uma lista telefônica. Algumas pessoas não
parecem ter uma grande cota de azar?
Se é assim, Jesus sabe. Ele sabe como se sentem e onde elas estão. “Soube Jesus que o haviam expulsado, foi e achou-o” (v.35).
Caso o estábulo do nascimento não tenha sido suficiente. Se três
décadas de andança pela Terra e milagres não são suficientes. Se há
qualquer dúvida a respeito da consagração a Deus, Ele faz coisas como
esta. Ele vai atrás de um pobre problemático.
O mendigo levanta seus olhos para olhar no rosto daquele que começou
isso tudo. Ele irá criticar Cristo? Reclamar para Cristo? Você não pode
culpá-lo de fazer os dois. Afinal, ele não se voluntariou para a doença
ou a libertação. Mas ele não faz nem um nem outro. Não, “ele o adorou.”
(v.38).
E quando você vê-lo, vai adorá-lo também.
Assim como Ele foi até o homem cego, Jesus está vindo para você. A
mão que tocou o ombro do cego vai tocar a sua face. Aquele que mudou a
vida daquele homem vai mudar também a sua.
Autor: Max Lucado
Fonte: Irmãos
Fonte: Irmãos