O governo da Coreia do Norte
anunciou nesta terça-feira (2) que vai reativar todas as suas
instalações nucleares, incluindo um reator atômico de 5 megawatts em
Yongbyon, que havia sido desativado em 2007 após um acordo de
desnuclearização.
Um porta-voz da Direção Geral da Agência Central de Energia Atômica
norte-coreana afirmou que serão tomadas medidas para reiniciar o reator e
renovar as instalações, que podem ser utilizadas para a produção
elétrica e fins militares, informou a agência estatal "KCNA".
Segundo o comunicado, a intenção é "dissuasória".
O anúncio foi feito um dia após o ditador Kim Jong-un anunciar a intenção de ampliar o arsenal nuclear norte-coreano. A medida pode permitir ao regime comunista extrair plutônio de barras de combustível usadas, segundo especialistas.
O reator de 5 megawatts em Yongbyon que a Coreia do Norte pretende
reiniciar foi desativado em 2007 em virtude de um acordo no marco das
conversas de seis lados, processo orientado à desnuclearização
norte-coreana e que envolve as duas Coreias e os Estados Unidos, além de China, Japão e Rússia.
Este processo de diálogo está, no entanto, estagnado desde 2008, quando
Pyongyang se retirou dele após ter recebido sanções da ONU por efetuar
testes com mísseis de longo alcance.
Desde então as diversas tentativas de retomar as negociações por parte dos países envolvidos terminaram em fracasso.
A nova declaração de intenções da Coreia do Norte ocorre depois que no
domingo (31) passado o chefe de Estado, Kim Jong-un, anunciou a
"ampliação qualitativa e quantitativa" do desenvolvimento de armas
nucleares como um dos dois pilares sobre os quais se assentarão as
futuras políticas do fechado regime comunista norte-coreano, junto com o
desenvolvimento econômico.
Horas antes do anúncio norte-coreano, a presidente da Coreia do Sul,
Park Geun-hye, reiterou sua intenção de resistir à ameaça que o Norte
apresenta, mediante uma "forte dissuasão política e militar".
As relações de Pyongyang com a comunidade internacional estão em um
estado de elevada tensão, já que o regime faz ameaças praticamente
diárias à Coreia do Sul
e aos EUA desde que a ONU lhe impôs, no dia 7 de março, novas sanções
por seu teste nuclear de fevereiro, o terceiro realizado pelo país.
A Coreia do Norte, um dos Estados mais isolados e imprevisíveis do
mundo, conduziu em fevereiro seu terceiro teste nuclear, mas analistas
acreditam que ela ainda esteja a anos de conseguir desenvolver armas
atômicas, embora afirme possuir uma "forma de dissuasão nuclear".
Por sua vez, Seul e Washington, aliados militares frente ao regime do
polêmico ditador Kim Jong-un, realizam em território sul-coreano
manobras militares com fogo real, que o Norte condenou, por
considerá-las um "teste" para uma possível invasão de seu país.
Pequena mudança no discurso
Em discurso proferido no domingo -e que teve a íntegra publicada na terça-feira pela KCNA, Kim, pareceu atenuar a perspectiva de um confronto nuclear direto com os Estados Unidos, ao salientar que as armas nucleares devem assegurar a segurança do seu país como "dissuasão".
"Nossa força nuclear é uma dissuasão bélica confiável, e uma garantia
de proteger nossa soberania", disse Kim. "Está na base de um forte
poderio nuclear que a paz e a prosperidade possam existir, e também a
felicidade da vida das pessoas."
O discurso de Kim, proferido perante o Comitê Central do Partido dos
Trabalhadores da Coreia (partido comunista), pareceu sinalizar uma
pequena mudança em relação às ameaças, mas não significou de forma
alguma o fim da crise.
Para Yang Moo-jin, da Universidade de Estudos Norte-Coreanos, em Seul, o
fato de o discurso ter ocorrido na reunião do Comitê Central indica uma
tentativa de dar mais foco aos problemas econômicos do que à segurança.
Mas a reativação dos reatores nucleares poderia ter implicações de
longo prazo para a segurança regional. A Coreia do Norte enriquece
plutônio no seu reator de Yongbyon, da era soviética, e esse é um
caminho comprovado para a aquisição de mais material físsil do que num
programa de enriquecimento de urânio.
A torre de resfriamento de Yongbyon foi destruída como parte de um
acordo de desnuclearização, e não está claro quanto tempo a usina levará
para ser reativada. Não se sabe nem mesmo se ela está ligada à
antiquada rede elétrica norte-coreana.
"Era um reator que estava se aproximando da obsolescência, com uma
torre de resfriamento que já não funcionava adequadamente quando foi
explodida. Isso poderia significar que eles estão reconstruindo algumas
coisas", disse Yoo Ho-yeol, especialistas em Coreia do Norte da
Universidade da Coreia, em Seul.
A decisão de reativar o reator representa um golpe para a intenção
chinesa de retomar o processo multilateral de desnuclearização da
península, levando um porta-voz da chancelaria em Pequim a lamentar a
decisão.
Além de reativar o reator de 5 megawatts em Yongbyon, única fonte
conhecida de plutônio para o programa nuclear norte-coreano, a KCNA
disse que uma usina de enriquecimento de urânio também voltará a operar.
A usina servirá para enfrentar o que a KCNA descreveu como uma "aguda
escassez de eletricidade", além de reforçar "a força nuclear armada".
Os EUA, que dizem não ver indícios de movimentações militares hostis da
Coreia do Norte, mobilizaram durante a noite um navio militar na costa
coreana, o USS McCain, um destroier usado na defesa antimísseis. Não
estava clara qual era a posição do navio na terça-feira.
Antes, Washington havia reforçado sua presença militar realizando
exercícios com bombardeiros e caças indetectáveis por radares na Coreia
do Sul, numa rara demonstração de força.
Grande parte da retórica norte-coreana das últimas semanas tem sido uma
repetição de explosões de raiva anteriores, mas sua intensidade e
duração são uma novidade, levando a preocupações de que a tensão
desencadeie confrontos militares reais.
Em Washington, um porta-voz da Casa Branca disse na segunda-feira que
os EUA levam a sério as ameaças norte-coreanas, mas observou que "não
estamos vendo mudanças na postura militar norte-coreana, como
mobilizações em grande escala e o posicionamento de forças".
Fonte: G1