O projeto Bíblia FreeStyle,
uma iniciativa do pastor Ariovaldo Jr. que “traduz” a mensagem bíblica
com uma linguagem popular e se utiliza da técnica da paráfrase para
construir seus textos, vem sendo duramente criticada no meio cristão.
Na maioria das críticas, a reprovação está para o fato de haverem
termos chulos e até palavrões na reapresentação das passagens bíblicas.
O pastor Renato Vargens,
da Igreja Cristã da Aliança, em Niterói, escreveu um artigo sobre o
tema em seu blog, e desaprovou a contextualização feita: “Depois que vi
que inúmeras pessoas estavam comentando o assunto resolvi pesquisar
sobre a Bíblia em questão. Infelizmente o que encontrei foi um trabalho
absolutamente questionável e que na minha perspectiva depõe contra as
verdades inequívocas e inexoráveis das Escrituras. Até entendo que o
desejo dos autores tenha sido contextualizar a Palavra de Deus
tornando-a acessível as mais variadas tribos, todavia, penso que ao
fazê-lo banalizando o conteúdo bíblico os autores erraram e erraram
feio”, criticou.
Já Frank Brito,
do blog Resistir e Construir, classificou a Bíblia FreeStyle como
“abominação”, e atacou diretamente o autor da iniciativa: “Eu já conheci
muita gente parecida com o Ariovaldo Jr., autor da Bíblia Free Style.
São adultos que nunca conseguem superar atitudes típicas de crianças ou
adolescentes problemáticas como, por exemplo, a constante necessidade de
falar com muitas gírias e palavrões para se autoafirmar, mostrar o
quanto são ‘descoladas’ e saciar a necessidade de muita atenção. Quando
adentram no mundo cristão, são pessoas que, quando não são restauradas
por Deus, simplesmente colocam uma roupagem cristã nestes mesmos desejos
de antes. A raiz do problema por trás da Bíblia Free Style não é o
próprio Ariovaldo Jr. Ele é só mais uma gota do grande oceano de clichês
repetitivos dos ‘radicais’”, afirmou.
No site da revista Ultimato, a sessão “Palavra do Leitor” publicou um artigo do reverendo Ângelo Vieira Da Silva,
que propõe uma “reflexão” sobre a polêmica: “Creio que alguns cristãos
ou líderes “conservadores” torcerão o nariz diante deste projeto
idealizado pelos pastores Ariovaldo Jr. e Guilherme Burjack sem, ao
menos, refletir. Posso conjecturar que o motivo inicial, naturalmente,
poderá ser a dificuldade intrínseca de avaliar a BFS a partir de seu
próprio pressuposto, quer dizer, de seus autores. Reconheçamos: ser
diferente, pensar diferente, escrever diferente, agir diferente, enfim,
muito de tudo que é diferente pode ser mal compreendido e criticado sem
fundamentos e/ou reservas”, introduz.
Para o reverendo Silva, a Bíblia FreeStyle não pode ser criticada
como se fosse uma tradução literal da Bíblia Sagrada, e por isso, é
necessário aguardar que o tempo mostre resultados: “A grande maioria dos
cristãos conservadores (como eu) geralmente não está preparada para se
relacionar com pessoas intensamente ‘diferentes’”, pontua o reverendo.
Entretanto a ponderação feita pelo reverendo Silva não é compartilhada pelo pastor Márcio de Souza,
que não admite o uso deliberado de palavras de baixo calão no âmbito
bíblico, mesmo que isso aconteça num projeto que visa parafrasear a
Bíblia a fim de atrair o interesse dos leitores para uma segunda leitura
mais atenta.
“Essa bíblia freestyle é uma brincadeira de mau gosto [...] Vejam
bem, não estou aqui para falar do caráter do autor da tal bíblia, nem
para atestar se ele é crente ou não (isso é papel de Deus e eu não sou
Deus) até porque nem o conheço pessoalmente. Mas combater ideias é o
real objetivo desse artigo. Qual o problema da bíblia Freestyle? Pelo
que pude ver, o problema está no excesso de contextualização. Existem
dois problemas quando se trata de contextualização: A ausência dela e o
excesso. Cá para nós, colocar palavrão na boca de Jesus é um pouco
demais pra qualquer mente aberta que tenha a boa vontade de ler aquele
texto. Não é questão de contestar as “palavras torpes” embora sejam, mas
uma questão de que o texto bíblico não precisa disso. Quer causar,
aparecer, tudo bem, é natural do ser humano querer atenção, mas desse
jeito? Que preço hein. Não sou nenhum puritano e nas horas de raiva eu
também falo palavrão, só pra ficar claro, mas não é por isso que eu vou
sair por aí externalizando meus momentos de raiva nos meus textos, quiçá
no texto bíblico. Meu momento de raiva, é só um momento, não um estilo
de vida”, escreveu.
O pastor batista Guilherme Burjack, parceiro de Ariovaldo Jr. no
projeto Bíblia FreeStyle publicou um desabafo pelo volume de críticas
que a iniciativa tem recebido.
No texto, o mestrando de Ciências da Religião pela PUC-GO afirma que
tem “experimentado nestes últimos dias o gostinho amargo de ser mal
interpretado”, e ressalta seu espanto com o comportamento dos irmãos na
fé.
“Desde que estou, em parceria com Ariovaldo Carlos Jr escrevendo uma
paráfrase (insisto não é tradução) de textos do novo testamento, me
deparei com algo interessante: a relação dos irmãos e irmãs em relação
ao texto sagrado varia de total desprezo à reverência totêmica. O que
intriga nesta relação com o texto sagrado é que alguns não questionam o
real significado da escritura: leitura – compreensão – aplicação. Esse
foi o princípio que regeu desde o início a sua composição”, explica
Burjack.
A necessidade de compreensão e o contexto sociocultural atual são
destacados por Burjack como uma das justificativas do projeto: “A
Palavra de Deus precisa ser entendida. E há de fato, não digo eu, mas os
dados sobre analfabetismo funcional, um mal silencioso que segrega
milhares de pessoas. O silêncio sobre isso torna a democracia do
conhecimento um bem para poucos, e o texto sagrado, desde a reforma, vem
sendo de tempos em tempos popularizada”, defende-se.
No site
da Bíblia Freestyle, os autores do projeto publicaram uma mensagem aos
críticos em que destacam a infalibilidade da igreja de Cristo e pedem
que as preocupações com o projeto sejam deixadas de lado, focando em seu
propósito de popularizar a mensagem cristã. Confira abaixo a íntegra:
Há tanta gente com os ouvidos púdicos, com a alma suja e os relacionamentos rompidos que estão se sentindo feridos pela paráfrase Bíblia FreeStyle. Estão preocupados com o que fazemos, não com quem somos. Vejo que os mesmos que se levantam para defender a Sã Doutrina, gritam Corbã quando são questionados sobre o relacionamento torto com suas próprias famílias, Igrejas, amigos e estranhos (em alguns casos, somos o amigo ou o estranho – e apanhamos de todo jeito).
Não se preocupem conosco, sério. Chamamos para nós a orientação de Gamaliel ao sinédrio: “Deixem estes meninos fazerem o que querem, sabemos que isso não vai dar certo se não for de Deus”. Então fique sossegado quanto aos resultados. O tempo dirá, até porque:
• A igreja não vai esmorecer, porque ela é de Cristo.
• Seus filhos não vão para o mal caminho, pois você é presente na vida deles.
• A juventude não vai sair dos trilhos, pois a igreja ou ministério que você congrega/dirige é atuante na vida deles.
• A sã doutrina não vai pro brejo, pois em cada lar há uma Bíblia distribuída por você e ministrada em ensino coerente pela sua presença constante no discipulado.
• Não há o risco do evangelho ser entregue de forma tão “torpe” para as vidas que nunca leram o texto bíblico pois você chegou primeiro lá.
Entendo que para cada palavra dura, sem amor, cheia de adjetivos sobre nossas vidas e ministérios, há o mesmo quantitativo de resultado em vida, amor e entrega gerados por você onde está. Você nos acusa, nos ofende, nos insulta, nos ameaça, mas está trabalhando. Isso é bom para o Reino.
Que Deus, a quem amamos e servimos, que conhece a real motivação disso tudo, nos proteja de nós mesmos e de você.
Amém.
Fonte: Gospel +