Desde 1996, Keenan Roberts, pastor da Igreja New Destiny Christian
Center, no Estado do Colorado, já vendeu mais de mil kits de uma “casa
do horror cristã”, usada especialmente durante a época de Halloween, no
final de outubro.
“Se é para ter medo, então que seja produtivo”. Esse deve ser o
pensamento do pastor Roberts, que criou uma espécie de “casa
mal-assombrada” que montada na igreja e encenada por atores cristãos,
tem como objetivo mostras às pessoas que a salvação é só em Jesus.
Nos últimos 16 anos, estas “Hell Houses” [Casas do Inferno] como
foram batizadas, usam a tradição dos jovens americanos de celebrar o
Halloween para mostrar a realidade do céu e do inferno. Tradicionalmente
os americanos estão mais preparados para sentir medo nesse período e
acabaram exportando esse costume para vários lugares do mundo.
O processo é simples, muitas igrejas usam um espaço no templo ou fora
dele para encenar uma espécie de peça de teatro interativa. As pessoas
entram no ambiente esperando algo similar ao que é comum no Dia das
Bruxas. Mas a ideia do pastor Roberts não era mostrar vampiros, bruxas,
fantasmas e lobisomens.
Quando alguém entra nesse espaço cuidadosamente pensado, observa
cenas de um suicídio, depois passa para um ambiente onde vê pessoa de
prostituindo, na outra sala testemunha um acidente de trânsito com um
motorista bêbado, um outro espaço mostra um adolescente tomando uma
overdose de drogas e morre, em outra sala uma jovem é submetida a um
aborto, por fim há uma cena de casamento gay.
O tempo todo quem apresenta as situações é um ator que serve de
“demônio-guia”. Ao final de cada ato ele diz ao público: “É apenas mais
um dia de trabalho rotineiro para mim!”. A casa infernal original tinha
de sete ambientes, em geral uma sala, e cada um deles representa um
“pecado” de forma diferente.
Os tópicos variam ligeiramente de ano para ano, mas sempre se
concentram em mostrar algo que envolva sangue, morte e as consequências
de quem morrer longe de Deus. O método é eficaz, segundo Roberts. Quando
os visitantes chegam à cena final, a sala que representa o “céu”, é
feito um apelo para que a pessoa mude de vida e conheça a Deus através
de Jesus. Segundo o pastor, “um em cada quatro visitantes optam pela fé
cristã ou renovam seu compromisso com ela.”
Este ano, o ministério de Roberts decidiu vender um kit por US$ 299,
ensinando as igrejas a construir a sua própria “Hell House”. Cada pacote
com o material inclui um DVD, um manual de 300 páginas passo a passo, e
um CD com a trilha sonora assustadora. Ele conta que já vendeu mais de
mil kits apenas para igrejas evangélicas. Alguns trechos chocam pela
frieza. Para a cena do aborto, o pastor recomenda que sejam usados
“pedaços de carne com gordura que se assemelham a pedaços de um bebê”.
Eles devem ser colocados em um recipiente de vidro e os atores que
representam a equipe médica devem manter uma atitude “fria, indiferente,
insensível e rude”.
Esses kits criados por Roberts foram se tornando populares e vem
sendo criticados por grupos de direitos gays e
pró-aborto. Surpreendentemente, vários grupos religiosos, incluindo o
Conselho Nacional de Igrejas, também criticaram as “casas infernais”,
acusando-as de ter uma atitude agressiva de evangelismo. Em 2008, o
conhecido ateu Richard Dawkins usou imagens de uma apresentação numa
Hell House para um episódio de sua série de documentários “A Raiz de Todo o Mal?”,
onde classificou o espetáculo como “o que há de pior” na tentativa
evangélica de assustar as pessoas com a possibilidade de as pessoas irem
para o inferno.
O pastor é indiferente a estas críticas. ”Jesus era tão controverso
que foi morto”, disse ele ao Huffington Post. “Você não pode causar um
impacto sem colisão”, acrescentou. Ele enfatiza que nesses anos todos,
mais de 75 mil pessoas visitaram as Hell Houses montadas em sua igreja
na época do Halloween. Mas seu objetivo não é agradar ninguém que possa
querer ter alguma diversão assustadora na igreja. ”A prioridade é
alcançar as pessoas, com a mensagem de que o pecado destrói e Jesus salva”, resume.
Traduzido de Patheos e Huffington Post