A pedra tem o tamanho de um caderno escolar e é originária da
região do Mar Morto. As quinze linhas descrevem, em primeira pessoa, os
planos do rei Joás para a reforma do Templo de Salomão. O episódio é
narrado no capítulo 12 do Segundo Livro dos Reis, da Bíblia.
O
Livro dos Reis, do Velho Testamento, faz parte dos chamados "livros
históricos" porque seus relatos se confundem com a história documentada
dos reis fundadores de Israel. São ao mesmo tempo assunto de fé e de
arqueologia. Por esse motivo, a descoberta de geólogos israelenses
anunciada na semana passada despertou enorme interesse. Os cientistas
certificaram a autenticidade de um bloco de pedra com inscrições em
fenício, onde se lê que o rei israelita Joás instruiu os sacerdotes a
recolher dinheiro para pagar as reformas do Primeiro Templo de
Jerusalém, construído por Salomão. O texto na pedra é similar a
descrições do mesmo fato no Segundo Livro dos Reis. Essa lasca de pedra
do tamanho de um caderno escolar pode ser considerada a mais antiga
prova de um relato bíblico já encontrada. "Se a inscrição passar por
todos os testes de autenticidade, será o artefato mais importante da
arqueologia israelense", diz o arqueólogo Gabriel Barkai, da
Universidade Bar-Ilan.
O
Instituto Geológico de Israel, que divulgou a descoberta, não revelou as
circunstâncias do achado. O dono, um colecionador anônimo, levou a peça
para ser examinada um ano atrás. Os testes mostraram que a inscrição
datava do século IX a.C., o que coincidiria com o reinado de Joás. Os
exames também indicaram a presença de salpicos de ouro fundido na
superfície da pedra, que poderiam ter sido causados por um incêndio,
como o que destruiu o Templo de Salomão, em 586 a.C. Segundo a Bíblia,
Salomão, filho do rei Davi, viveu há 3.000 anos, no auge do Reino de
Israel. A Bíblia conta que nobres e plebeus vinham consultá-lo por sua
sabedoria. Faz parte da cultura universal a decisão de Salomão no caso
das duas mulheres que disputavam a maternidade de um bebê. O rei mandou
cortar a criança em duas metades com o fio da espada e descobriu a mãe
verdadeira pelos protestos desesperados de uma delas para que deixasse a
criança viver. Mas as provas históricas da existência de Salomão são
escassas. Evidências de seu famoso templo nunca tinham sido encontradas,
e muitas das construções atribuídas a ele foram erguidas por reis
posteriores.
Em um país em conflito, até mesmo
uma descoberta histórica perde a neutralidade científica. A pedra pode
ter sido descoberta durante escavações no Monte do Templo, controlado
pelos muçulmanos em Jerusalém, e dali entrado no mercado negro de
antiguidades. Se essa versão se confirmar, o bloco de pedra pode
reforçar a reivindicação judaica ao Monte do Templo, sagrado para ambos
os lados, e inflamar ainda mais os ânimos. O tema da posse do Monte do
Templo é tão delicado que um passeio do primeiro-ministro Ariel Sharon
pelas mesquitas do local em 2000 foi o estopim para a atual rebelião
palestina, que já matou 2.400 pessoas. Um triste legado para um grande
rei