Temendo pela própria vida, um dos maiores defensores do povo Xavante de
Mato Grosso, o bispo emérito Dom Pedro Casaldáliga, de 84 anos, foi
forçado a deixar a casa em que vive na cidade de São Félix do Araguaia,
a 1.159 quilômetros de Cuiabá, por conta da retirada das famílias de
posseiros da Terra Indígena de Marãiwatsédé, que deve ser entregue
gradualmente aos índios da etnia a partir desta segunda-feira (10).
Desde que a Justiça reconheceu que a área em disputa é dos índios,
Casaldáliga passou a receber constantes ameaças de morte que motivaram o
Conselho Indigenista Missionário (Cimi) a divulgar notas de repúdio
contra uma possível retaliação ao religioso. De acordo com o
representante do conselho em Mato Grosso, Gilberto Vieira, um grupo de
posseiros disse que Casaldáliga ‘era o problema’ e que ’faria uma visita
para ele’. A distância entre o centro nervoso do conflito, o Posto da
Mata, e São Félix do Araguaia não passa de 120 quilômetros.
O G1 apurou que Casaldáliga e mais um padre deixaram
São Félix do Araguaia na madrugada da última sexta-feira (7), por volta
das 5h, escoltados por um policial federal. O agente fez a segurança dos
religiosos até o aeroporto da cidade. Em um voo fretado, Casaldáliga e o
padre seguiram até Brasília. No Aeroporto Internacional Juscelino
Kubitschek, os dois religiosos foram recebidos por outra equipe da
Polícia Federal que não informou ao G1 se os religiosos permaneceram na
capital federal ou se seguiram para outra localidade.
A Polícia Federal ressaltou ainda ao G1 que recomendou
a retirada do religioso de São Félix do Araguaia por conta das ameaças e
também pela vulnerabilidade da residência em que ele vive. Um dos lemas
de vida de Casaldáliga, adepto da Teologia da Libertação, durante
décadas à frente da Prelazia de São Félix do Araguaia é o de ‘nada
possuir’.
A PF temia que a residência simples e sem muro facilitasse o acesso dos
autores das ameaças até o religioso que sofre do ‘Mal de Parkinson’ e
está com a saúde debilitada. Casaldáliga se aposentou da igreja em 2005 e
na Ditadura Militar (1964-1985) também foi ameaçado, perseguido e
chegou a ser confundido com outro religioso que foi assassinado no lugar
dele.
Conflito
De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), a Terra Indígena Marãiwatsédé foi homologada por decreto presidencial em 1998 e reconhecida por sucessivas decisões judiciais legitimando o direito constitucional do povo xavante de voltar a viver em seu local originário, com a garantia do usufruto e da posse permanente de sua terra.
De acordo com a Fundação Nacional do Índio (Funai), a Terra Indígena Marãiwatsédé foi homologada por decreto presidencial em 1998 e reconhecida por sucessivas decisões judiciais legitimando o direito constitucional do povo xavante de voltar a viver em seu local originário, com a garantia do usufruto e da posse permanente de sua terra.
Homens do Exército e das policias Federal e Rodoviária estão na
comunidade de Posto da Mata para cumprir a determinação da Justiça. Os
posseiros mantêm desde a última semana bloqueios nas rodovias BR-158 e
242. Pelo plano de desocupação, os grandes proprietários terão que sair
primeiro da área e serão seguidos pelos pequenos produtores. O governo
federal enfatizou que as famílias não serão indenizadas.
O Incra diz que possui quatro áreas para reassentamento das famílias. Uma delas fica no município de Ribeirão Cascalheira,
a 883 quilômetros de Cuiabá, com capacidade para abrigar 250 famílias.
Polícia monitora posseiros e afirma que vai coibir um possível confronto
durante o cumprimento decisão judicial ao apreender armas na região.
Fonte: G1